Na última semana, a Operação Carne Fraca liderada pela Polícia Federal, revelou um esquema de propina para liberação de mercadorias sem fiscalização, envolvendo funcionários do Ministério da Agricultura e cerca de 40 empresas, entre elas as gigantes JBS, BRF e Peccin.
O escândalo deixou dúvidas em relação à qualidade da carne brasileira e levou os principais compradores do Brasil a pedirem suspensão das encomendas dos frigoríficos suspeitos. Na sequência, a China, União Europeia, Coreia do Sul e Chile anunciaram a suspensão temporária da compra de carnes do Brasil.
Exportação
O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. Começou a exportar carne para a Europa no início dos anos 2000. Somente no ano passado conseguiu aprovação para embarcar carne bovina in natura aos EUA, um dos mercados mais rigorosos exigentes do mundo em termos de qualidade de produtos alimentícios.
Entre 2000 e 2016, as exportações de carne subiram de cerca de US$ 2 bilhões para aproximadamente US$ 14 bilhões. O setor vendeu para mais de 150 países no ano passado e agora deverá enfrentar uma série de impactos negativos suscitados pelo esquema de venda de carne adulterada.
Após a deflagração da operação Carne Fraca, a União Europeia, Coreia do Sul, China e Chile oficializaram que irão paralisar a importação da carne brasileira. Blairo Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, anunciou a suspensão da licença de exportação de 21 plantas de frigoríficos sob investigação na operação. Agora, o foco do governo é evitar medidas rígidas de países compradores do produto.
A Associação de Comércio Exterior calcula perda de US$ 2,7 bilhões neste ano, e a exportação do produto deve cair 20%.
Mercado Interno
As empresas denunciadas devem sofrer impactos severos em suas marcas. A divulgação de gravações em que representantes de frigoríficos conversam sobre inclusão de carne de cabeça de porco em linguiças, e até o suposto uso de papelão misturado às carnes abalou a confiança dos consumidores.
Os frigoríficos investigados pela Operação Carne Fraca não poderão exportar, mas continuam autorizados a vender ao mercado interno sob um regime especial de fiscalização. Para Maggi, não há nenhuma preocupação para o consumidor brasileiro, que continua sendo protegido pelo Sistema de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura.
Os frigoríficos podem fazer um recall da carne quando houver um problema, com a retirada do produto do mercado. Essa solução foi adotada pela BRF, que está retirando lotes com o selo de inspeção “SIF 1010”. Maggi disse ainda que o ministério está colhendo amostras de carne nos supermercados e, caso encontre problemas, vai recomendar a retirada das mercadorias.
Governo
O Ministério da Agricultura enviará funcionários do departamento jurídico para Curitiba, a fim de obter os laudos que comprovariam a adulteração de produtos como carnes de aves e embutidos dos três frigoríficos que foram fechados, e também ter acesso, se existirem, aos laudos dos outros 21 frigoríficos que estão sob investigação. Segundo o ministério, até agora não foram encaminhadas provas de práticas ilícitas relacionadas aos produtos.
O secretário executivo, Eumar Novacki, afirmou que o ministério apoia a investigação e a operação, mas há uma grande preocupação com a forma como ela foi divulgada. Novack alertou que não se pode condenar um sistema de fiscalização que tem mais de 11 mil funcionários pela má conduta de 33 deles, e que as provas apresentadas até o momento não indicam um problema generalizado no setor de carnes.
Economia
Segundo economistas, o impacto da operação Carne Fraca na economia brasileira pode ser maior do que se imaginava. Contudo, eles ressalvam que tudo dependerá de quanto vão durar os embargos e se mais países vão aderir a ele.
A operação da Polícia Federal veio em que o agronegócio, um dos pilares da economia brasileira, vinha esboçando sinais de recuperação. O Brasil levou tempo para abrir novos mercados, e agora a imagem do país está abalada no exterior. Claramente, isso pode acarretar um prolongamento da recessão, afetando a vida de todos os brasileiros.
Segundo estimativa da consultoria LCA consultores, se todos os países fecharem as portas às importações de carne brasileira – o pior dos cenários – o impacto no PIB pode ser de até 1 ponto porcentual. A previsão oficial do governo, que deve ser revisada para baixo nos próximos dias, é de crescimento de 1%. Ou seja, caso a hipótese mais pessimista se confirme, a recuperação só viria em 2018.
Para o presidente Michel Temer, “a crise da carne causou um embaraço econômico ao Brasil”. A estratégia de minimizar as irregularidades e criticar a atuação da Polícia Federal tem sido usada pelo governo na tentativa de evitar um impacto ainda maior na compra da proteína animal pelo mercado internacional.